Qual a diferença do modelo Denver de intervenção precoce para outros tratamentos? O modelo Precoce de Denver centraliza os esforços do tratamento exatamente no centro dos sintomas do autismo, ou seja, a reciprocidade social, o engajamento social, o interesse social, o primeiro objetivo do nosso trabalho é trazer a criança de volta a interação social Garantir que a criança observe mais, imite mais, interaja mais com outras pessoas, utilizando a própria motivação da criança por objetos, brinquedos e pessoas possibilitando o aprendizado de novas habilidades em todas as esferas do desenvolvimento, como a imitação, comunicação, competências sociais, habilidades cognitivas, independência social, pessoal, motricidade fina, entre outros. As crianças passam boa parte do seu tempo livre de atividades estruturadas em sua rotina, e parte desse tempo é destinada a brincar. A brincadeira tem diversas funções importante para o desenvolvimento das crianças, elas utilizam as brincadeiras para adquirir novas competências e para colocar em prática competências que já tem domínio, variam as brincadeiras e experimentam novas formas criativas de utilizar os brinquedos ou objetos disponíveis, elas também utilizam as brincadeiras para práticas suas aptidões sociais. Tentar subir e descer escadas ou moveis da casa, encaixar peças de lego ou quebra cabeças, colocar e retirar objetos de recipientes, empurrar carrinhos, quase tudo serve para que possam brincar: panelas, caixas de papelão, colheres, recipientes de plástico, tampas, aprendem através da observação, nas brincadeiras de faz de conta, através da imitação, tudo se transforma numa oportunidade de aprendizado. Embora as crianças gostem de brincadeiras repetitivas como bater uma colher na panela, colocar e retirar objetos de recipientes, as brincadeiras de uma criança no espectro podem variar em relação as brincadeiras dos seus pares, pois tendem a repetir uma ação ou movimento com uma frequência e período de tempo maior, suas brincadeiras são mais simples e geralmente brincam com objetos incomuns ou de forma diferente, como girar as rodas do carrinhos, alinhá-los ao invés de empurrá-los, ou brincar com uma colher, escova de dente, pedras no lugar dos brinquedos convencionais, não demonstram tanto interesse me brincadeiras de faz de conta ou imitação, e muitas vezes preferem brincar sozinhas do que compartilhar a brincadeira ou brinquedos. No modelo Precoce Denver as brincadeiras e jogos são utilizados como base para o aprendizado, estas atividades são realizadas em ambientes naturais e não em ambientes controlados/estruturados, o interesse da criança e quem irá guiar a intervenção. O ambiente terapêutico deve ser adaptado para que a criança consiga aprender e se desenvolver no seu ambiente natural através das brincadeiras que ela gosta. Para garantir que o Modelo Precoce de Denver está sendo executado corretamente é preciso estar atento a 13 aspectos: 1. A gestão da atenção da criança: é preciso garantir que a criança está distribuindo bem a atenção visual e auditiva dela entre nós e o material; se a criança está montando um quebra-cabeça mas não existe troca social não existe troca de olhares e reciprocidade, este aprendizado não acontecera de maneira plena e suficiente, tendo em vista que uma das maiores dificuldades presentes no autismo é a de comunicação social e de engajamento social a gestão na atenção da criança é absolutamente fundamental. 2. Qualidade do ensino comportamental, ou seja, os aspectos do aprendizado: Se temos uma sequência baseada na ciência do aprendizado e ela possui antecedentes claros dos comportamentos apresentados pela criança a aplicação de consequências adequadas, o reforço ou a correção e a sua frequência é dada pelo adulto, gerenciando assim o aprendizado da criança. 3. Aplicação de técnicas de instrução ou qualidade do suporte: a qualidade do suporte que está sendo oferecido para criança é suficiente para facilitar que ela seja capaz de aprender novos comportamentos, esse suporte precisa ser sistemático. 4. Gestão do nível de alerta da criança: se a criança está hiperexcitada, muito agitada, ela não consegue se concentrar para aprender, mas se uma criança está hipoexcitada ou seja, desmotivada ela não terá a mesma percepção, por isto é preciso gerenciar a motivação, neste caso não tem relação com problemas de comportamento, mas sim com a otimização do humor, estado ou nível de participação da criança. Por isso é fundamental o gerenciamento da motivação e do nível de alerta da criança. 5. Gestão dos comportamentos indesejados/inapropriados: se a criança está apresentando comportamentos inapropriados como bater, gritar, se jogar, jogar objetos e fuga, é preciso intervir para que a criança reduza a frequência desses comportamentos e aprenda comportamentos mais apropriados, pois tais comportamentos deixam a taxa de desenvolvimento da criança mais lento e menos significativo. 6. Qualidade do compromisso diádico ou reciprocidade: é um tipo de compromisso social em que a criança está consciente das atividades do adulto e o adulto é um parceiro interativo, ambos têm consciência do seu papel na interação, a criança demonstra isso através do olhar compartilhado, trocas intencionais, sorrisos. Se a criança não está consciente, o seu aprendizado se torna extremamente limitado. 7. Gestão da motivação: este aspecto se refere a motivação da criança para realizar a atividade proposta, o adulto segue a liderança da criança para elaborar atividades que sejam interessantes ou para executar as atividades escolhidas por ela, valorizar esta escolha não impede a modelagem de um brinquedo novo ou atividade, forma intercalada seguimos sua motivação e vamos inserindo aprendizados novos, respeitando sempre a motivação da criança e finalizando antes que ela fique desmotivada. 8. Afeto: existe um afeto que está presente entre o adulto e a criança em todas as atividades e este afeto é utilizado para gerar ainda mais a motivação e estreitar laços com a criança, a reciprocidade deste afeto é demonstrado ao longo da terapia. O modelo Denver de Intervenção Precoce é uma terapia afetiva. 9. Sensibilidade e receptividade do adulto às pistas comunicativas da criança: é a capacidade do adulto estar sensível e receptivo para perceber as comunicações verbais da criança e respondê-las de forma apropriada, e não somente ignorar ou deixar passar desapercebidos as tentativas da criança de se comunicar ou se expressar. 10. Qualidade da comunicação: Durante a interação ocorre uma constância suficiente de oportunidades de aprendizado da fala e de comunicação não-verbal, o terapeuta deve estar atento e ser capaz de adequar o seu nível de linguagem ao nível de linguagem da criança. 11. Diferença das funções da linguagem: no decorrer da intervenção o terapeuta irá ensinar múltiplas funções da linguagem, como por exemplo: ensinar a criança a pedir, nomear, comentar, protestar/afirmar, imitar sons, pedir ajudar, saudar, sendo assim, todas as funções da linguagem devem ser ensinadas. 12. Estrutura da atividade: a estrutura da atividade auxilia e facilita a criança a perceber quando irá ocorrer a transição de uma atividade para outra sem que haja um conflito em que a criança tenha uma ruptura muito grande da sua motivação, é fundamental que fique claro para a criança com o que e com quem vamos fazer essa atividade, quais ações são esperadas da criança, e necessário fazer variações para ampliar o repertório da criança e assim vamos fazendo uma transição de forma fluida. 13. Transição: Na transição a criança tem autonomia e liberdade de escolher as próximas atividades e de aprender até mesmo durante a transição de uma atividade para outra. O modelo Denver de Intervenção precoce utiliza estratégias naturalistas e no ambiente natural, o reforço é natural, sendo assim não é utilizado reforço como alimentos, iPad, o reforço é o próprio reforço da interação social que vai sendo construído à medida em que a criança vai avançando na terapia. A capacidade da criança de se engajar e de participar das atividades vem pela sua própria motivação, pelo prazer que ela tem em realizar as atividades. O objetivo do Denver é garantir que o prazer e a motivação estejam presentes para que a criança venha a generalizar seus aprendizados. Como se tornar um parceiro ativo nas brincadeiras com seus filhos? Primeiro é preciso identificar o que motiva o interesse da sua criança, precisamos de brinquedos ou objetos que sejam do interesse da criança e apropriados para a sua idade, e que de preferência eles fiquem organizados e acessíveis ao alcance da criança, uma criança motivada é uma criança com maior possibilidade de aprendizado.Se a criança não demostra interesse por nenhum brinquedo ou objeto, apresente a ela brinquedos sociais sensoriais como a bolinha de sabão, despejar líquidos, balões, slimes, massinhas, flautas, chocalhos, se ainda assim ela não demonstrar interesse, cante músicas, faça brincadeiras de rodas, cocegas, pular no pula a pula, jogar bola, puxar a criança com a coberta.Se a comida for o único interesse da criança, aproveite e faça um piquenique, coloque animais dentro da gelatina, é preciso despertar o interesse da criança e direcionar sua atenção para os seus olhos e rosto, seja por meio de ações físicas, vozes/sons e palavras.Após identificar o item de interesse, elimine a concorrência, desligue a televisão, o tablet e qualquer outro eletrônico, se preciso faca alterações no ambiente para que não tenha distratores competindo com a sua atenção. É importante também fazer uma seleção previa do que será utilizado durante a atividade, deixe somente os itens selecionados, o ideal é que se tenha o mínimo de objetos no ambiente ou pessoas para concorrer com a atenção, de preferência tenha apenas uma mesa, uma cadeira e um móvel para colocar os brinquedos.Sente-se frente a frente com a criança na altura de seus olhos, garanta que ela esteja atenta ao seu olhar e expressões faciais, neste momento o seu único objetivo e ganhar a atenção dela, então, nada de demandas.Mantenha uma distância confortável em relação a criança, se a criança tentar evitar contato visual, seja tapando os olhos, abaixando ou virando a cabeça, dê a ela um pouco mais de espaço, não force a criança a te olhar, isso fará com que ela desvie ainda mais, e não é esse o objetivo. Garanta que sua presença seja extremamente reforçadora, fique atento aos sinais de interesse que a sua criança lhe dá, torne os brinquedos e objetos mais acessíveis, faça atividades divertidas e siga a liderança da sua criança durante o brincar, observe e narre o que a criança está fazendo, faça onomatopeias / sons faça comentários durante a brincadeira, isto promove o aprendizagem da linguagem verbal, uma regra muito importante a seguir é se sua criança ainda não fala nenhum palavra, utilize apenas uma palavra para se comunicar com ela, caso ela já fale uma palavra, se comunique utilizando duas palavras e assim sucessivamente.Quando já tiver ganhado a atenção e confiança de sua criança, comece ajudando-a durante a brincadeira, entregue uma peça que esteja faltando, ajude a abrir a caixa de brinquedos, se sua criança já estiver confortável com a sua presença é hora de assumir um novo papel na brincadeira, comece imitando-a, utilize brinquedos iguais para imita-la, dê modelos novos para ela te imitar, se ela demonstrar interesse no seu objeto, compartilhe com ela e peque outro para dar continuidade a brincadeira, você pode também estimular a troca de turno minha vez/sua vez, caso sua criança não queria dividir ou que você encoste em seu brinquedo, invista em brincadeiras paralelas e aos poucos vá se aproximando.Aproveite as oportunidades para acrescentar algumas variações diferentes durante o brincar, insira novos itens a brincadeira, de modelos e peça que a criança faça igual (imite a sua ação), ofereça sempre as ajudas necessárias para que ela consiga executar a brincadeira, reforce imediatamente e volte a seguir a liderança dela novamente. Muito importante ressaltar que se sua criança demonstrar que se sentiu desconfortável em alguns desses passos, volte para o passo anterior.O brincar possibilita o aprendizado, a criança vai aprendendo a seguir as demandas com uma menor resistência, vamos fazendo o que chamamos de quebra de rigidez comportamental, e o mais importante é que a brincadeira em si, se torna um reforçador.Texto escrito pela Supervisora Jessica Duarte, especialista em Autismo.
Famílias nos procuram após ter recebido o diagnóstico de autismo e com atrasos no neurodesenvolvimento do seu filho (a) sempre com muitas dúvidas e angustiados de como eles deverão agir partindo deste diagnóstico. A grande maioria acaba acessando primeiramente o Google e lá encontra um boom de informações de vários aspectos e contextos. Uma das mais comuns que normalmente eles têm. É se o seu filho vai se desenvolver e como a ABA pode ajuda-lo nesse processo. Então primeiro vamos entender o que é ABA e alguns modelos de ensino que são mais usados partindo dessa ciência.A Análise do Comportamento Aplicada, ou ABA da sigla em inglês para Applied Behavior Analysis, é definida como uma ciência aplicada, ou seja, que se aplica aos indivíduos, por meio de procedimentos como modelagem, reforço positivo, modelação entre outras. Diante de um dos três pilares da Análise do Comportamento, sendo os outros dois da filosofia, que é denominada por Behaviorismo Radical, baseada na obra de Skinner, e na área de pesquisa, a Análise Experimental do Comportamento é a ciência que se embasa de forma aplicada. As intervenções em ABA têm como principal objetivo ampliar repertórios comportamentais dos indivíduos e diminuir a frequência e/ou a intensidade de comportamentos desafiadores ou com pouca adaptação.Importante destacar que as intervenções em ABA requerem uma avaliação sempre cuidadosa e criteriosa com uso de protocolos que são validados nacionalmente e internacionalmente que tem por finalidade analisar e testar todos os domínios do desenvolvimento, além de fazer uma coleta de dados sobre os fatores que influenciam cada comportamento. Essa coleta visa analisar o progresso individual (ver as potencialidades e déficits do paciente) e auxiliar na tomada de decisões em relação ao programa de intervenção e soluções para os comportamentos desafiadores.Quando Ivar Lovaas, em 1987, fez seus primeiros estudos utilizando da ABA com crianças autistas, ele enfatizou a que a terapia fosse intensiva, fazendo-se necessária de 20 a 40 horas semanais a fim de obter os melhores resultados e promover autonomia. Atualmente vemos que as crianças que recebem essa carga horária semanalmente apresentam excelentes resultados e dependendo dos sintomas, muitos deles chegam a ser eliminados e transferidos em ganhos comportamentais. Quando falamos de ABA, devemos salientar que para cada criança existe um Plano Terapêutico Individualizado, que chamamos de (PTI). Após a criança passar por uma avaliação criteriosa e ser verificada as necessidades iniciais, é então, elaborado um PTI com as metas de ensino que deverão ser aplicadas em casa, no consultório e nas outras terapias que o paciente/aluno frequenta. Todos os objetivos de ensino são traçados de forma individual para cada criança. Justamente por isso ABA não é um método! Quando falamos em método, entendemos que, o que faremos com uma pessoa poderá ser feito para todos e é por isso que a ABA não é um método e sim uma ciência. Levando sempre em consideração que cada indivíduo é único, com a sua particularidade, singularidade e necessidade.A ciência preconiza a mensuração de tudo que é aplicado com o indivíduo, pois, influencia diretamente na evolução de cada caso, além disso, faz-se necessário que o planejamento de intervenção (PTI) seja confeccionado por uma Supervisor Analista do Comportamento. A aplicação do planejamento poderá ser realizada por profissionais capacitados e também pelos pais.Deixo uma ressalva importante que a ciência ABA não é só para o tratamento dos autistas. todos os indivíduos podem e devem se beneficiar com essa tão renomada ciência que está presente em todos os contextos a fim de promover a modificação do comportamento, seja no esporte, na economia, na escola, e na vida de qualquer indivíduo. Para mais informações, entre em contato conosco através do link abaixo e agende uma consulta com um dos nossos especialistas! Por Juliana Moura, CEO da Clínica Mundo Kids - Núcleo de Desenvolvimento e Idealizadora do Parque Azul.
Vamos iniciar esclarecendo a diferença e a importância entre professores de apoio (acompanhante especializado) x acompanhante terapêutico escolar. De acordo com o Ministério da Educação (MEC) o professor de apoio escolar (acompanhante especializado) deve ter formação inicial que o habilite para o exercício da docência e formação específica na educação especial, inicial ou continuada”, ou seja, todos aqueles com diploma de licenciatura podem ser professores de AEE. Este profissional tem como função promover uma educação de qualidade, eliminando os obstáculos para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas. O professor de apoio (acompanhante especializado) elabora, identifica e organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade para promover o acesso à educação e complementa a formação dos alunos com o objetivo de torná-los mais autônomos e independentes dentro e fora da escola.O Acompanhante Terapêutico (AT) em geral, é um aplicador ABA, que faz parte de uma Equipe Multidisciplinar que acompanha a criança em seu tratamento médico/terapêutico, é um profissional ou estudante e podem ser psicólogos, terapeutas ocupacionais ou pedagogos. O objetivo do acompanhante terapêutico na escola é integrar a criança autista no convívio com os colegas, orientá-la nas atividades em sala de aula, garantindo recursos que facilitem a sua compreensão e aprendizagem. O acompanhante terapêutico escolar também ajuda os professores a manejar comportamentos disruptivos e estimular comportamentos adequados da criança em sala de aula. Ao contrário do professor de apoio (acompanhante especializado), o acompanhante terapeutico escolar não decide quais atividades e procedimentos utilizar nas intervenções, pois estes quem decide é o profissional responsável pelo caso ou a equipe como a qual trabalha. Ou seja, sua prática deverá ser supervisionada semanalmente ou quinzenalmente, apresentando relatórios das atividades desenvolvidas com as crianças, na qual estas auxiliam a desenvolver e descobrir suas habilidades e potencialidades escolares. Em resumo, professor de apoio (acompanhante especializado) é um profissional de Educação Especial próprio para lidar com crianças com deficiência introduzidas no contexto escolar da educação regular, que oferecerá apoio às atividades de comunicação, interação social, locomoção, alimentação e cuidados pessoais à instituição de ensino em que a pessoa autista ou com outra deficiência estiver matriculado. E o aplicador ABA, Acompanhante Terapêutico (AT) é um profissional com conhecimento em ABA, integrante da Equipe Multidisciplinar que acompanha a criança em seu tratamento médico/terapêutico, no qual consiste em estar junto aos seus pacientes, para ajudá-los na execução de suas atividades, superar algumas limitações, desenvolver competências e autonomia. Entre as atividades mais importantes podemos citar:✓ Brincadeira funcional: Algumas vezes a criança se engaja em comportamentos sem função, como pintar toda a folha, nesse caso, é necessário ensinar a criança a brincar de maneira funcional. O ensino envolve o bloqueio do comportamento sem função e o reforço de comportamentos mais adequados.✓ Demandas escolares: Nas escolas existem objetivos pedagógicos a serem alcançados. É importante, dependendo da criança, a revisão desses objetivos para indicar ao Acompanhante Terapêutico (AT) até onde ele deve ir. Se os objetivos são os mesmo dos outros alunos, então o trabalho do Acompanhante Terapêutico (AT) deve ser realizado no sentido do alcance desses objetivos pela criança. ✓ Socialização: A escola é o local mais adequado para o treino de socialização, assim, o Acompanhante Terapêutico (AT) também deve possibilitar que a criança desenvolva essa habilidade, ensinando brincadeiras sociais e a comunicação entre pares. Sabendo que em sua maioria, o Acompanhante Terapêutico (AT) é um aplicador ABA, vale ressaltar aqui, a importância da Análise do Comportamento Aplicada (ABA) e suas contribuições para o desenvolvimento de crianças autistas. Derivada do inglês Applied Behavior Analysis, a Análise do Comportamento Aplicada é uma ciência da aprendizagem, recomendada pela Organização Mundial da Saúde para pessoas com desenvolvimento atípico, especialmente o autismo. Sendo uma ciência reconhecida, ABA (Análise do Comportamento Aplicada) tem apresentado resultados significativos em benefício do estado clínico de crianças autistas, com a finalidade de desenvolver habilidades essenciais na criança, sobretudo na área comportamental, quando ela apresenta dificuldades de sozinha realizar. Desta forma, ABA (Análise do Comportamento Aplicada) deve ser aplicada nos ambientes em que a criança realiza suas atividades, inclusive na escola, onde será trabalhada para controle e instrução a regras sociais básicas, estimulando a intercomunicação com o outro e sua participação em sala de aula e fora dela, retificando condutas não aceitáveis, comportamentos repetitivos e estereotipias.Texto escrito pela Psicopedagoga Fernanda Soares, Terapeuta Supervisora Mundo Kids.
Nos últimos anos vários profissionais da área de saúde tem criticado o aumento do número de casos que tem sido diagnosticados com TEA. Alguns extrapolam e dizem que está na moda ser autista e que tudo não passa de modismo e de uma maneira para médicos, psicólogos, terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos ganharem seu dinheiro.O fato é que tem sim aumentado o número de casos do TEA, assim como tem aumentado o número de casos de depressão infantil, de ansiedade Infantil, de Gaming Disorders, de Suicídio, de transtornos alimentares, dentre outros, que certamente estão ligados a fatores genéticos e ambientais.Hoje com o maior número de diagnósticos (É um FATO, não um modismo) certamente haverá um número maior de intervenção e é ai que lidamos com um grande problema: o que é mais importante, a qualidade das terapias aplicadas ou o número de horas em que a criança é submetida a tais terapias ? Outro problema importante: a falta de comunicação entre os profissionais assistentes, num conceito equivocado de tratamento multidisciplinar, em que vários profissionais estimulam a criança, mas não comunicam entre si, não absorvendo o melhor de cada criança no espectro. É a chamada intervenção eclética isolada, a qual se mostra ineficaz.Não bastasse tais dificuldades há também as terapias não reconhecidas, tal qual aplicação de vitaminas, uso de câmaras hiperbáricas, ozonioterapia, eletroestimulação, dietas restritivas, dentre outras. Assim, é importante que fique estabelecido o conceito de transdisciplinaridade (onde os profissionais se comunicam verdadeiramente), que intervenções isoladas são ineficazes, que há necessidade de se respeitar as cúspides comportamentais (pré-requisitos) para o estímulo ser eficaz e que há ciência cientificamente comprovada para tratamento do TEA, sendo a ciência ABA a que se mostrou mais eficaz na melhora da linguagem expressiva, comportamento adaptativo e cognitivo comportamental. E isso não necessariamente de acordo com a quantidade de horas realizadas, mas sim com a qualidade das horas aproveitadas. Lembrando ainda que são cientificamente comprovadas outros estímulos, tal qual Integração Sensorial de Ayres, Musicoterapia, Terapia Cognitivo comportamental, treino de comunicação funcional, intervenção assistida por tecnologia, dentre outros, mas nenhuma com a eficácia da ciência ABA.Além disso, no tratamento há também a associação com o uso de medicações, mas isso a ser tratado num outro texto onde terei o prazer de produzir para vocês. Texto escrito por: Rafael Monteiro Bruno, neuropsiquiatra na Clínica Mundo Kids.CRMEGO 10979 - Telefone para contato: 62 9 9855-0609
Os marcos do desenvolvimento Infantil são um conjunto de habilidades que a maioria das crianças atingem numa determinada idade, a saber: linguagem, cognitivo, socioemocional emotor. O desenvolvimento das mesmas vai depender basicamente de dois fatores: a carga genética de cada um e os fatores ambientais. Assim, estímulos externos positivos potencializam o nosso desenvolvimento e estímulos negativos (telas, abusos, etc) podem atrasar esse desenvolvimento.Notar se uma criança está atingindo os marcos do DNPM pode ser difícil e inconclusivo, principalmente para pais jovens ou de primeira viagem ou ainda para pais superprotetores.Justamente por isso é importante o acompanhamento com o médico pediatra rotineiramente, mês a mês nos primeiros seis meses de vida e posteriormente trimestralmente.A importância de se estabelecer parâmetros no desenvolvimento infantil é a identificação de sinais e sintomas precoces de Transtornos do neurodesenvolvimento e a intervenção o mais breve possível, afim de desencorajar a conduta “whait and see” (de esperar para ver o que vai acontecer) e causar assim prejuízos ao desenvolvimento daquele indivíduo. Isso se deve ao fato deque nos primeiros três anos de vida o ser humano possui muito mais sinapses cerebrais se comparados ao adulto, ou seja, há mais neurônios aptos a aprender coisas novas. É a famosa neuroplasticidade dos primeiros anos de vida. Mas, para que ela seja aproveitada, mesmo no individuo com algum transtorno, é preciso utilizá-la e estimulá-la, caso contrario, ela não ocorrerá.E, antes da eclosão da Pandemia de Covid-19, o CDC ( Center of Disease Control and Prevention ) encomendou e financiou a AAP (American Academy of Pediatrics) para a realizaçãode uma atualização nos marcos do DNPM com o objetivo de simplificar e otimizar o uso destes marcos para encorajar a intervenção precoce nos atrasos do DNPM. O estudo então foi publicado em 2022 e houve uma série de atualizações, principalmente na linguagem. Todavia, tal estudo vem sofrendo uma série de críticas, como a não participação de fonoaudiólogos nos estudos e o atraso na aquisição da linguagem. Além disso, trata-se de um estudo de revisão em que diversas decisões são baseadas em opiniões de especialistas e não necessariamente em evidências cientificas. Assim, por esta atualização, houve uma série de mudanças, sendo as mais relevantes na minha opinião:- O estudo identifica os comportamentos que 75 % ou mais das crianças devem apresentar em determinada idade e não mais 50 % como se fazia anteriormente;- Acréscimo das idades de 15 e 30 meses na avaliação;- Atraso na idade de aquisição da linguagem/fala – anteriormente uma criança de dois anos deveria ser capaz de dizer 50 palavras, sendo este marco transferido para crianças de dois anos e meio e meio, dentre outros exemplos;- 67,7 % dos marcos foram remanejados para idades mais avançadasAssim, contraditoriamente ao objetivo do estudo, que seria o de identificar precocemente os sinais e sintomas de atraso e a intervenção precoce para aproveitar ao máximo a neuroplasticidade cerebral, a atualização nos traz a impressão de que está sendo encorajado a conduta de esperar para ver e não o de intervir precocemente. Penso que na prática continua valendo o mantra: “Reconheça os sinais, aja cedo". Para isso, não deixe de acompanhar o DNPM do seu filho com o pediatra e na dúvida, estimule!Texto escrito por: Rafael Monteiro Bruno, neuropsiquiatra na Clínica Mundo Kids.CRMEGO 10979 - Telefone para contato: 62 9 9855-0609
Olá papais!Desenvolver uma avaliação de fala e linguagem de uma criança é uma tarefa regada de desafios, pois além de existirem perspectivas e abordagens teóricas, ligadas ao neurodesenvolvimento, alterações ligadas a linguagem e fala, cada criança é um ser único e apresentam características e especificidades que devem ser levadas em em pauta pelo fonoaudiólogo. Todavia, é de extrema importância, avaliar aspectos e queixa que são relatadas pela família relacionadas ao desenvolvimento de fala e linguagem da criança. Para podermos falar sobre avaliação e Diagnóstico diferencial é necessário entender…O que é fala e linguagem?Primeiramente é necessário compreender que a fala e a linguagem não acontecem de forma separada, pois o nosso cérebro trabalha em rede, toda via apresentam funções diferentes. A linguagem é um conjunto de habilidades que desenvolvem quanto competência (o processamento de informações, raciocínio lógico, habilidades comunicativas, compreensão, discriminação auditiva e visual, que faz com que indivíduo escolha a melhor forma de se comunicar (seja por gestos, expressões faciais, escrita, fala ou desenhos) além da capacidade de organizar e sequencializar frases, quando se desenvolve a comunicação pela escrita ou fala. A fala além de ser uma maneira importante de se comunicar e exercer a linguagem, é definida como um conjunto de atos motores, programação e seqüencialização dos movimentos que envolvem articulação dos órgãos fonoarticulatórios (boca, lábios, língua, bochechas...) que são de extrema necessidade a verbalização e execução do ato de fala. Mas, o que são Transtornos de comunicação e o que eles podem interferir na fala da criança?Os Transtornos de Comunicação, podemos entender como qualquer dificuldade, atraso ou alteração associadas ao desenvolvimento de habilidades de comunicativas, que vão interferir e trazer prejuízos do funcionamento pessoal, psicossocial, acadêmico, profissional. Interferindo na comunicação social e de aprendizagem. Conforme o DSM-V, eles incluem: • Transtorno da Fala;• Transtorno da Linguagem;• Transtorno da Comunicação Social (pragmática);• Transtorno da Fluência com Início na Infância). Com estes conceitos bem esclarecidos podemos falar sobre diagnóstico diferencial.O diagnóstico diferencial é capacidade que o profissional fonoaudiólogo ou da saúde possui, ou seja, profissional apto a desenvolver a avaliação através do seu conhecimento e experiência clínica, de analisar as alterações importantes, e ter a capacidade distinguir um diagnóstico do que se parece ser um diagnóstico.Desse modo, é necessário além do domínio técnico dos protocolos, habilidade no manejo durante a aplicação dos testes, uso de conhecimento teórico prático aprofundado, estudo sobre os padrões psicométricos das crianças avaliadas, tal como a observação dos fatores clínicos apresentados durante a avaliação, com o objetivo de otimizar e complementar o diagnóstico para determinar qual transtorno ou atraso está afetando o desenvolvendo da fala e linguagem da criança e por meio desta, definir a linha de tratamento mais adequada para o caso, o mais precocemente possível, visando a minimização de perdas funcionais, aumentos das habilidades comunicativas, iniciando programas de intervenção precoce para que assim, possam promover a evolução no desenvolvimento do paciente.Desconfie:• De diagnósticos realizados em um dia ou em minutos no consultório.• De certezas imediatas.Valorize:• Avaliações processuais, que vejam as dificuldades e potencialidades da sua criança.• Terapeutas diagnósticas, com as quais os pais possam tomar decisões e orientações sem abreviações, que desenvolva para sua criança um plano terapêutico próprio para a necessidade que a criança apresenta.Texto escrito por Larrisa Lima - Fonoaudióloga - Capacitação em Atendimento a Pessoa Autista com base nos fundamentos da análise do comportamento aplicada - ABA.
Primeiro, o que é CID?CID é a classificação internacional de doenças e problemas relacionados à saúde, sendo um sistema de códigos criados pela OMS para padronizar a comunicação entre os profissionais de saúde.Qual CID utilizar? Atualmente já está em vigência a 11º edição (CID 11), mas a maioria da classe médica e operadoras de saúde ainda se utilizam da 10º edição (CID 10), ou seja, estamos em um processo de transição e famiarização com a CID 11.Por que a mudança?Na verdade não é mudança e sim uma atualização, com o intuito de simplificar, evitar erros e facilitar o diagnóstico e tratamento adequado de transtornos e doenças.A operadora de saúde (convênios e seguradoras) podem exigir o CID para liberação de consultas, exames, terapias e demais procedimentos? De acordo com a lei dos planos de saúde (lei 9656/98) o plano pode se utilizar da CID para avaliar se tal caso está inserido ou não no rol de procedimentos a serem cobertos por tal, mas de acordo om a resolução 1819 do CFM, é proibido a codificação ou até mesmo informar o tempo de doença ou transtorno do paciente, salvo nos casos em que o próprio paciente ou responsável autorize a colocação do CID. Lembrando que no caso do TEA há a lei que garante o acesso ao tratamento do mesmo (lei 12764 - Berenice Piana) e vale a pena ser conhecida pelos pais e responsáveis.Quais as principais mudanças observadas na CID 11? Na área de neuropediatria podemos destacar:A - AVC migrou do capítulo de doenças circulatórias para doenças neurológicasB - Síndrome de Burnout do capítulo de doenças mentais para o de saúde ocupacionalC - Transtorno de identidade de gênero passou a ser denominado de incongruência de gênero e passou do capítulo de doenças mentais para saúde sexualD - Identificado novo CID para GAMING DISORDER (distúrbios de jogos eletrônicos)E- Por fim as mudanças no TEAComo era?CID 10 - Transtorno global do desenvolvimento (F84) e subdivisões, a saber: autismo infantil, autismo atípico, asperger, transtorno desintegrativo da infância, transtorno de hipercinesia com retardo mental e estereotipias, síndrome de rett, autismo não especificado. Eram classificados e tratados separadamenteComo ficou?CID 11 - À exceção da síndrome de rett que ganhou um CID específico. O F84 da CID 10 passa a ser unificado e denominado de TRANSTORNO DO ESPECTRO DO AUTISMO - TEA, seguindo a orientação da última edição do manual diagnóstico e estatístico dos transtornos mentais (DSM-V).E há sim subdivisões na CID 11 para o TEA, baseados na linguagem funcional e déficit cognitivo por ventura apresentados por esses pacientes. Confira abaixo:Importante destacar que esses códigos e classificações não define o potencial dos pacientes e a minha indicação é sempre a intervenção o mais precoce possível, faça uma avaliação criteriosa, busque ajuda de um profissional especializado para auxiliar você neste processo.Texto escrito por: Rafael Monteiro Bruno, neuropsiquiatra na Clínica Mundo Kids.CRMEGO 10979 - Telefone para contato: 62 9 9855-0609
Comece por você, se reeduque, pois daqui para frente seu mundo será totalmente diferente de tudo o que conheceu até agora. Se reeducar quer dizer: fale pouco, frases curtas e claras; aprenda a gostar de músicas que antes não ouviria; aprenda a ceder, sem se entregar; esqueça os preconceitos, seus ou dos outros, transcenda a coisas tão pequenas.Aprenda a ouvir sem que seja necessário palavras; aprenda a dar carinho sem esperar reciprocidade; aprenda a enxergar beleza onde ninguém vê coisa alguma; aprenda a valorizar os mínimos gestos.Aprenda a ser tradutora desse mundo tão caótico para ele, e você também terá de aprender a traduzir sentimentos. Um exemplo disso: "Nossa, meu filho tá tão agressivo". Tradução: ele se sente frustrado e não sabe lidar com isso, ou está triste, ou apenas não sabe lhe dizer que ele não quer mais vê-la chorando por ele.Você irá educar bem seu filho se aprender a conhecer o autismo "dele", pois cada um tem o seu próprio, mesmo que inserido em uma síndrome comum.Deverá aprender a respeitar o seu tempo, o seu espaço, e reconhecer mesmo com dificuldades que ele tem habilidades, e verá que no fundo elas são tão espetaculares!Você irá aprender a se derreter por um sorriso, a pular com uma palavra dita, e a desafiar um mundo inteiro quando este lhe diz algum não. Você começará a ver que com o tempo está adquirindo superpoderes, e que a Mulher-Maravilha ou o Super-Homem, não dariam conta de 10% do que você faz.Você tem o superpoder de estar em vários lugares ao mesmo tempo, afinal escola, contraturno, natação, integração sensorial, consultas, fono, pedagoga, ufa... Dar conta de tudo isso só se multiplicando e ainda se teletransportando!Você é a primeira que acorda e a última que vai dormir, isto é, quando ele a deixa dormir, e no outro dia está sempre com um sorriso no rosto ao despertar.Você faz malabarismos e consegue encaixar o salário da família em tantas contas e coisas que precisa fazer, que só mesmo com superpoderes. Você nota que seu cérebro é privilegiado, embora nunca tivesse imaginado que dentro de você haveria um pequeno Einstein, pois desde o diagnóstico de seu filho, você já estudou: neurologia, psiquiatria, pediatria, fonoaudiologia, pedagogia, nutrição, farmácia, homeopatia, terapias alternativas, e tantas outras matérias.Você dá aula de autismo, ouve muitas bobagens em consultórios de bacanas, e ainda ensina muitos deles o que devem fazer ou qual melhor caminho a seguir para que seu filho possa se dar bem. Ah... E a informática que anteriormente poderia lhe parecer um bicho-de-sete-cabeças, a partir deste filho, você encarou e domina o cyberespaço como ninguém!São tantas listas de autismos, blogs, Facebook, Twitter ... Ih ... pesquisa no Google então, já virou craque, ninguém encontra nada mais rápido que você! Uma hora você verá o que essa "reeducação" proporcionou a você, pois hoje você é uma pessoa totalmente diferente do que era antes de ser mãe de um autista.Nossa como você mudou, hein? E topará com a pergunta que não quer calar: "Como devo educar meu filho autista?" Olhará ao redor, olhará para seu filho e perceberá que ele também está diferente, que ele cresceu, que já não é tão arredio, que as birras já não se repetem tanto, que ele até já lhe joga beijos! Que aquela criança que chegou solitária na escola, hoje já busca interagir, e já até fez algum amiguinho. Que ele já está aprendendo "jeitinhos" de se virar, e nem a requisita tanto mais.Então, chegará a conclusão que mesmo sem saber responder a tal pergunta, você tá fazendo um bom trabalho, e que ninguém no mundo poderia ser melhor mãe que você para esse filho!Texto escrito por Claudia Moraes. Claudia é mãe de um autista adulto, recebeu diagnóstico de autismo e superdotação também na fase adulta, é Mestra em Educação, Especialista na Educação na Perspectiva do Ensino Estruturado, Pedagoga, Vice-presidenta da ONDA-Autismo.
Agosto é o mês que marca o Dia dos Pais. Eu tive um pai presente, que esteve comigo nos momentos alegres e também nos difíceis. Também sou pai de dois filhos lindos, um já adulto e outro na adolescência. Sempre fui um pai presente.Sou uma pessoa autista, passei por muitos desafios na infância e na adolescência, principalmente na escola, mas também em outros contextos onde questões relacionadas ao TEA me afligiam. E nem ao menos um diagnóstico tive a oportunidade de conseguir para ajudar no direcionamento nesse caminho, já que há décadas era quase impossível ter essa resposta para a condição em que eu existo.Ter meu pai me apoiando fez toda a diferença quando, mesmo sem saber que seu filho era uma pessoa neurodivergente, ele lutava para que minha maneira de existir, mesmo que na época essa maneira não tivesse um nome, fosse respeitada. Ele brigou muito por mim ao lado de minha mãe.As mães de filhos autistas são pioneiras nessa luta por inclusão e aceitação dos filhos. A minha também foi assim com seus três filhos autistas. Não tínhamos, pela falta de diagnóstico, o nome para nossa condição na nossa infância e adolescência, tampouco as mães que criavam os filhos autistas tinham um termo que as definissem.Hoje, com melhores possibilidades de diagnóstico, com a chance de ter o diagnóstico dos filhos muito mais precocemente, elas têm a possibilidade de criarem seus filhos já com um direcionamento melhor e com manobras e direitos para a inclusão, muitos conquistados à base de suas próprias batalhas. Elas se dizem mães atípicas, mães de crianças que existem de maneira atípica.Para os pais, eu penso que é um pouco diferente. Infelizmente, ainda hoje, muitos pais abandonam essa jornada da paternidade de um filho (a) autista. O número de homens que largam a família quando descobrem que o filho (a) está dentro do Espectro do Autismo ainda é assustadoramente grande. E, quando digo largam, estou falando dos pais que vão embora e, quando muito, pagam uma pensão e fazem uma visita ou outra, mas também dos que não vão embora, mas não estão na criação de maneira participativa. Deixam a prole de lado mesmo vivendo no mesmo lar.E aí vemos que é típico que os lares de crianças autistas sejam sustentados pelas mães atípicas. O pai atípico vai embora. Não serve a ele então o título de pai atípico.Falando de mim, não tenho muita predileção pelo termo pai atípico, pois acho que deveria ser comum que o pai fosse protagonista da criação ao lado da mãe, se essa for a configuração daquela família. Deveria ser típico do pai cuidar. Para mim, cuidar de meus filhos é natural e ainda hoje, com 43 anos de idade, grito socorro ao meu pai, se necessário.Com isso, sou levado a conceber que o termo pai atípico me serve, não apenas por ficar ao lado de meus filhos, atípicos ou não, mas por ainda ser parte de uma minoria que são os que ficam. Mães, quando se dizem atípicas, estão se referindo à condição dos filhos (as). Pais, quando são atípicos, referem-se ao fato de que o típico é ir embora e deixar tudo para as mães cuidarem.Então, aos pais que ficam, feliz Dia dos Pais! Aos que foram, lamento que esse comportamento ainda seja típico desses homens que não podem ser chamados de pais atípicos. Pensando bem, nem mesmo podem ser chamados de pais.Por Fábio CordeiroPresidente da ONDA-Autismo