Se olharmos à nossa volta, observamos uma enorme diversidade entre as pessoas, suas igualdades e suas particularidades. Somos seres de infinitas possibilidades. Em um processo de avaliação neuropsicológica também é assim. Muito vem sendo pesquisado, e as neurociências fazem cada vez mais parte do nosso dia-a-dia, no entendimento sobre nossas estruturas cerebrais, suas funções e como isso repercute em nossos comportamentos.A Neuropsicologia estuda o cérebro e o comportamento humano, ou seja, as alterações cognitivas e emocionais das pessoas e o impacto disso no seu comportamento. Estas alterações podem estar associadas a lesões cerebrais ou não.Quando falamos do público infantil, muitas vezes as queixas estão relacionadas a alterações em comportamentos, atrasos no desenvolvimento e dificuldades emocionais. Na avaliação neuropsicológica das crianças, o objetivo é identificar seu funcionamento cognitivo e detalhar suas disfunções, relacionando isso a suas dificuldades emocionais e/ou comportamentais. Com a avaliação neuropsicológica, podemos entender as potencialidades e as dificuldades da criança em diversas funções cognitivas: atenção, linguagem, memória, funções executivas, motoras e visuais, possibilitando também a avaliação de seu quociente de inteligência (QI). Estas funções refletem diretamente na capacidade da criança ao realizar suas atividades de vida diária. Por isso, a avaliação pode ajudar na indicação de condutas parentais, educacionais, ou mesmo no encaminhamento para reabilitação e demais terapias específicas, que possam contribuir para os avanços no desenvolvimento da criança.A avaliação neuropsicológica geralmente é solicitada por médicos para auxiliar na confirmação ou não de diagnósticos de transtornos do neurodesenvolvimento, como transtorno do espectro autista, deficiência intelectual, transtornos da comunicação, transtorno de déficit de atenção/hiperatividade e transtorno específico da aprendizagem. Além disso, com a avaliação neuropsicológica é possível identificar comorbidades (quando há mais de um transtorno identificado) e auxiliar no entendimento do prognóstico, ou seja, da evolução e prováveis consequências do transtorno para a vida da criança. Texto Por: Gabriela Binder – Psicóloga Clínica, Especialista em Neuropsicologia | CRP 07/32536 | Supervisora na Clínica Mundo Kids no Rio Grande do Sul – RS
Devido a página @aspiesincero no Instagram tenho a possibilidade de contato com muitos pais e não é raro conversar com alguns que acabaram de receber o diagnóstico do filho e encontram-se um tanto quanto perdidos. Muitos me pedem uma dica, um conselho primordial que possa ajudar com essa nova realidade. Eu não sou capaz de dar um conselho, uma dica apenas que possa servir para tudo, mas vou usar do meu olhar, tanto de pessoa autista como a de pai de autista, para falar um pouco sobre isso hoje.Quando vem a notícia que nos tornaremos pais, fazemos uma idealização do filho. Eu digo fazemos, porque também passei por esse processo, também fiz essa idealização do filho “perfeito” quando soube que seria pai. Aí vem o autismo e quebra, num primeiro momento, essa imagem do filho ideal. Eu sei como é se sentir assim, eu me senti assim. Agora, com toda minha vivência o que eu posso dizer a vocês é: não sintam-se culpados por pensarem assim! É normal, esse sentimento vem mas ele passa.Quando você se propõe a entender o autismo e o seu filho, vai compreender o quão perfeito ele é e como existem muitas formas de amar e de sentir o amor do seu filho. Você verá o amor nas pequenas coisas, nos detalhes, e vai entender que existe outra maneira de ver as coisas, um jeito puro, direto, sincero e simples de amar.Aceite no seu filho suas características, muitas vezes únicas, pois muitas coisas nem você nem ele poderão mudar. Caso seja não verbal, seja sua voz, porém se ele puder falar, escute-o.Ajude seu filho em suas dificuldades, a superar comportamentos que podem ser prejudiciais a ele, mas também ajude para que ele possa ter seus comportamentos autísticos respeitados, que ele possa ser respeitado do jeito que ele é sem que tenha que se enquadrar em padrões apenas para agradar ou se adequar em convenções sociais.Não posso dizer que será sempre fácil, haverão muitos momentos difíceis, afinal criar um filho é difícil. Para esses momentos difíceis eu vou dar um último conselho que, ironicamente ou felizmente, é o mais fácil de seguir e sou capaz de apostar que esse você já segue. Ame!Aceite, ajude, ame!!!Texto escrito por: Fábio A. Cordeiro, Autista, 40 anos | Funcionário Público Federal | Pai de dois meninos, um neurotípico e um autista | Colunista no vidadeautista.com.br | Membro da REUNIDA - Conselho dos Autistas | Criador da maior página de humor autista do Brasil - @aspiesincero
No reforçamento diferencial algumas respostas são escolhidas para serem reforçadas enquanto outras são colocadas em extinção. Para explicar isso melhor é preciso salientar que: existem quatro tipos de reforçamentos diferenciais e cada um será utilizado dependendo da demanda do paciente, isto é, o comportamento a ser modificado será analisado para decidirmos qual melhor procedimento a ser utilizado. DRO – É um Reforço Diferencial de Outros Comportamentos: Em DRO escolhemos qualquer outro comportamento diferente ao comportamento inapropriado para realizarmos o reforçamento em determinado intervalo de tempo, por exemplo, a criança que costuma ver TV fazendo flapping (balançar as mãos). Reforçaremos qualquer outro comportamento, em um intervalo de tempo, que o comportamento de fazer flapping não acontecer, podendo ser, por exemplo, levantar as mãos, o qual não é incompatível ao flapping. DRL – É um Reforço Diferencial de Baixo Índices de comportamento: Em DRL reforçamos, em intervalo fixo, se houve um número X do comportamento inapropriados. O objetivo será de reduzir o número de comportamentos inapropriados por intervalo fixo de tempo até acontecer a extinção (ausência) dos mesmos. Por exemplo, em 10 minutos, a criança apresentou 5 comportamentos inapropriados com topografia de flapping enquanto assistia TV. Passados 10 minutos, haverá reforço. Caso, nos próximos 10 minutos haja 5 ou menos comportamentos iguais, haverá reforço novamente. Se houver mais comportamentos com está topografia, não apresentaremos o reforçador. DRI – É um Reforço Diferencial de Comportamentos Incompatíveis: No DRI escolhemos, como o próprio nome diz, um comportamento “incompatível” àquele inapropriado. Por exemplo, o comportamento que queremos colocar em extinção são os flappings quando a criança assiste TV. Portanto escolheremos um comportamento incompatível a esta topografia, como por exemplo, bater palmas. Portanto, reforçamos um comportamento topograficamente incompatível ao que queremos colocar em extinção. DRA – É um Reforço Diferencial de comportamentos Alternativos: Em DRA reforçamos comportamentos alternativos já ensinados para o aluno. Este comportamento não precisa, necessariamente, ser incompatível ao que será colocado em extinção. Ainda seguindo o exemplo do flapping, podemos ensinar o aluno a ter um objeto sensorial para segurar enquanto assiste a TV. Com isso será possível fazer uma substituição, o aluno deixará de fazer o flapping e irá segurar/manusear o item sensorial. O Reforçamento Diferencial pode ser usado em qualquer comportamento que precisa ser colocado em extinção. Contudo, para que escolhamos qual o manejo correto, é necessário fazer uma boa análise funcional do comportamento inapropriado, a fim de investigar qual a função deste comportamento e a sua frequência. Comportamentos Auto e Heterolesivos podem ser modificados através de reforçamento diferencial, como por exemplo cutucar-se, bater-se com tapas, bater-se em objetos, entre outros. Contudo, é necessário perseverança e, mais uma vez, uma análise funcional muito bem feita assim como um programa de reforçamento diferencial especifico para aquele comportamento.Gostou desse conteúdo? Quer saber mais? Aguardem nossos cursos Online e nos acompanhe no Instagramm @mundokids.abaPor: Elisa Lengler - Psicóloga, especialista em Psicologia Sistêmica e em ABA pelo Instituto Paradigma- SP | CRP 12/11990 | Supervisora na Clínica Mundo KidS |Coordenadora Parque Azul em Santa Catarina.
A infância é marcada por um período de grande plasticidade no desenvolvimento do cérebro, principalmente nos primeiros anos de vida. Estudiosos apontam que nos “três” primeiros anos cerca de 800 neurônios se conectam por segundos para formar sinapses de aprendizagem.Tendo em vista que o autismo é um transtorno que envolve várias dificuldades comportamentais, é preciso atentar-se as intervenções desde o primeiro momento em que o seu filho recebeu o diagnóstico ou até́ mesmo foi pontuado com “sinais de alerta” para o espectro ou já apresenta atrasos de acordo com os marcos do que esperado para cada mês e idade do desenvolvimento infantil.A intervenção quanto mais precoce iniciar-se, maior será a eficácia na aquisição de comportamentos, seja nas áreas sociais, cognitivas, emocionais, de linguagem e pedagógicas podendo até mesmo eliminar boa parte dos sintomas e desfrutar de uma vida significativa, produtiva e plena. Entretanto, isso não significa que a criança deixará de ser autista, mas ela conseguirá adquirir repertórios que são necessários e importantes para o seu desenvolvimento.Uma pergunta frequente que recebemos na clínica é: Preciso do diagnóstico de autismo para iniciar com as intervenções?! Minha resposta é, Não! Se você̂ nota que o seu filho não está desenvolvendo-se dentro do que é esperado em cada etapa e apresenta comportamentos que você̂ julga ser “diferentes” de outras crianças da mesma idade, procure ajuda com psicólogo (a) especializado em Análise do Comportamento imediatamente!Ao falar em intervenção precoce vamos destacar um modelo que tem tido excelentes resultados nas pesquisas atuais, que é o Modelo Denver de Intervenção Precoce. Ele foi desenvolvido para dar uma resposta intensiva de intervenção precoce completa a crianças a partir de 7/8 meses de vida podendo ir até aos 4 anos de idade. Este modelo é fundamentado e embasado na Analise Aplicada do Comportamento – ABA, e tem como objetivo reduzir os sintomas do autismo por meio de técnicas apropriadas que podem acelerar o desenvolvimento da criança em todos os domínios, como na comunicação e linguagem, brincar, social, autocuidado e todas as habilidades cognitivas.No autismo uma característica crucial é a dificuldade nas interações sociais, e por isso tornou-se o coração do espectro. Desta forma, o Modelo Denver focou-se em construir relações próximas com as crianças por meio de interações dinâmicas que envolvem um afeto positivo em que levaria a criança a procurar outros parceiros sociais para participarem nas suas atividades favoritas. Por isso esse Modelo de intervenção foi fundamentado no desenvolvimento social e comunicativo.Vale ressaltar que as principais características desse Modelo incluem: uma equipe multidisciplinar (analisado individualmente), um planejamento individualizado abrangendo todos os domínios do desenvolvimento, uma assistente terapêutica domiciliar diária, carga horaria de no mínimo 20 horas semanais e o coaching parental. As intervenções baseadas no Modelo Denver de Intervenção Precoce são projetadas para aumentar a relevância das recompensas sociais e, assim, melhorar a atenção e a motivação social da criança para a interação social. Nessas estratégias de ensino incluem: incentivos relacionados com objetivos e respostas da criança, incorporação das escolhas da criança nos episódios de ensino, intercalação de tarefas previamente adquiridas com tarefas em fase de aquisição, atividades que sejam altamente reforçadoras para as crianças, reforço por parte do terapeuta nos objetivos alvos alcançados e manejo nos comportamentos inapropriados...A grande importância das crianças receberem a intervenção precoce, é de que as competências que normalmente são mais afetadas em bebês e crianças com autismo podem ser transformadas em repertórios adquiridos que envolvem a interação conjunta, a imitação, o brincar e a linguagem. E tudo isso acontece por causa da neuroplasticidade que é capacidade do cérebro de construir e refazer novos caminhos. Quanto mais cedo a criança receber o tratamento adequado, melhor qualidade de vida ela poderá ter!Referência Bibliográfica:Intervenção Precoce em Crianças com Autismo, Sally J. Rogers & Geraldine Dawson –Modelo Denver para a promoção da linguagem da aprendizagem e da socialização.
DTT- Ensino por tentativas discretasDentre as diversas estratégias que compõe a Análise do Comportamento Aplicada (ABA) para a intervenção de crianças com desenvolvimento atípico, uma delas é o DTT, ou seja, Ensino por Tentativas Discretas, a qual se dá por um ensino estruturado e planejado de acordo com as necessidades do paciente, de forma individual. Para a aplicação do DTT é necessário que o aplicador receba as instruções, treinamento e supervisões semanalmente. O processo de ensino se dá por uma contingência altamente descrita com o passo a passo que deverá ser seguido, sendo desde a instrução dada a criança, o tipo de ajuda fornecido a ela, a resposta da criança seguida por uma consequência imediata de um elogio social, dentre itens que são reforçadores para a criança, como brinquedos, recursos sensoriais, doces e até mesmo eletrônicos (vai da preferência de cada criança). É importante dizer que toda essa operação precisa ser altamente descrita e analisada em cada supervisão se tais comportamentos alvos estão sendo adquiridos ou não, para alterar a forma de aplicação e ou procedimento. Ao elaborar o programa de ensino o programador/supervisor do caso deverá descrever a hierarquia de dica e como elas poderão ser esvanecidas, a quantidade de acertos independentes que a criança precisará ter para atingir critério de aprendizagem, a manutenção dos comportamentos aprendidos, além do teste de generalização que deverá ser aplicado em diversas condições e com variadas pessoas. Queremos que o nosso aluno não aprenda somente com o AT ou somente com o pai que está aplicando os programas de ensino. Quando elaboramos tais programas, idealizamos para que todos os repertórios adquiridos sejam também expandidos, e desta forma consideramos uma aprendizagem eficaz!No ensino de DTT é também realizado repetidas vezes, tendo o aprendiz múltiplas tentativas em uma mesma sessão de emitir a resposta esperada. Para garantirmos essas respostas e analisarmos os próximos passos, é necessário que todos os comportamentos que estão sendo ensinados sejam registrados a fim de mensurar as respostas do aluno e traçar novas metas. Além disso é necessário que esses comportamentos sejam posteriormente operados em gráficos para melhor visualização das respostas e controle de aprendizagem.Este ensino DTT apresenta eficácia com comprovação científica para promover o aprendizado de novas habilidades, auxiliar na diminuição de comportamentos inapropriados, fortalecer respostas incompatíveis àquelas apresentadas como indesejadas, e aumentar a probabilidade de comportamentos apropriados.Alguns princípios básicos para o planejamento do DTT são:• O ensino deve ser individualizado.• Para cada objetivo é realizada uma análise de tarefas.• Os comportamentos ensinados devem ser repetidos para que a criança dê a mesma resposta alvo por mais vezes.• Existem critérios de avanços. Uma nova habilidade só começa ser ensinada quando a anterior já está aprendida, e esta deverá ser posta em manutenção.• Utilizamos pressupostos da aprendizagem sem erros, ou seja, o terapeuta, quando necessário apresenta ajudas para que a criança se mantenha motivada.• Todas as respostas da criança são registradas. Desta forma temos controle do que a criança está aprendendo e em qual nível de ajuda ela está.• Os registros são importantes para analisar o passo seguinte.• A resposta esperada deve ser detalhada na folha de registro, para que, caso haja mais de um aplicador, estes aceitem a mesma resposta alvo da criança, reforçando-as de maneira correta.Ensino naturalísticoO ensino naturalístico ou incidental tem como característica a iniciação da criança, ou seja, essa interação não é estruturada, o aprendizado se dá através de brincadeiras ou conversas (neste caso, quando trabalhado questões relativas ao comportamento verbal).Muitas vezes esta iniciação inclui um pedido de ajuda, como, por exemplo, quando damos à criança um brinquedo com uma peça faltando e ela precisa pedir, aproveitamos a oportunidade para dar continuidade à intervenção.O terapeuta pode apresentar uma dica para ajudar a criança, mas diferente do DTT, onde começamos com a ajuda mais intrusiva, no ensino naturalístico ou incidental, começamos com a ajuda menos intrusiva (least to most) de menos para mais, contudo o uso de dicas é mais flexível neste modelo de ensino.Outro procedimento utilizado durante o ensino incidental é a modelagem, ou seja, o terapeuta vai refinando a resposta da criança a partir da apresentação da mesma até que a topografia da resposta desejada seja alcançada. No ensino naturalístico o ambiente precisa ser organizado, com os itens de preferência da criança para que assim, aumente a probabilidade dela iniciar a interação, ou seja, mesmo que a sessão não seja estruturada requer um planejamento e preparo.Assim que a criança apresenta a iniciativa em uma brincadeira e o terapeuta interage, a criança é reforçada de forma relevante ou funcional e não arbitrária. Isto é, no ensino naturalístico o reforçador é intrínseco, acontece na própria interação e/ou na brincadeira. Por este motivo a análise de reforçadores na intervenção incidental é muito importante, além do conhecimento prévio dos repertórios que a criança tem, para que desta forma sejam trabalhadas as expectativas realistas e a apresentação das dicas nos momentos apropriados.Apesar do ensino incidental ser bastante utilizado na aquisição de linguagem, pode-se ensinar habilidades sociais e acadêmicas também. Existe um mito que se ensina apenas conteúdo lúdico através de ensino incidental e conteúdo acadêmico através de DTT. Isso não existe, sendo que ambos podem ser utilizados para promover o ensino de todos os repertórios que o indivíduo precisa.A maior vantagem apresentada pelo ensino incidental é de que a principal variável é a motivação da criança, o que facilita a generalização comportamental, ou seja, é mais provável que a criança diga “boneca” se quer uma boneca em ambiente não estruturado se ela foi estimulada em ambiente naturalístico.Para finalizar quero destacar que tanto o ensino por tentativas discretas-DTT quanto o ensino naturalístico se complementam. Alternar entre um e o outro pode deixar a sessão mais divertida, aumentando a motivação da criança e consequentemente o aprendizado.
Algumas famílias chegam na clínica após seu filho(a) ter recebido o diagnóstico de autismo e com muitas dúvidas de como eles deverão agir partindo deste diagnóstico. Uma das mais comuns que normalmente eles têm, é se o seu filho vai se desenvolver e como a ABA pode ajuda-lo nesse processo. Então primeiro vamos entender o que é ABA e alguns modelos de ensino que são mais usados partindo dessa ciência.A Análise do Comportamento Aplicada, ou ABA da sigla em inglês para Applied Behavior Analysis, é definida como uma ciência aplicada, ou seja, que se aplica, diante de um dos três pilares da Análise do Comportamento, sendo os outros dois da filosofia, que é denominada por Behaviorismo Radical, baseada na obra de Skinner, e na área de pesquisa, a Análise Experimental do Comportamento.As intervenções em ABA têm como principal objetivo ampliar repertórios comportamentais dos indivíduos e diminuir a frequência e/ou a intensidade de comportamentos indesejáveis ou com pouca adaptação.É importante destacar que as intervenções em ABA requerem uma avaliação sempre cuidadosa, com uma coleta de dados sobre os fatores que influenciam cada comportamento. Essa coleta visa analisar o progresso individual e auxiliar na tomada de decisões em relação ao programa de intervenção e soluções para os comportamentos desafiadores/inapropriados. Quando Ivar Lovaas, em 1987, fez seus primeiros estudos utilizando da ABA com crianças autistas, ele enfatizou a que a terapia fosse intensiva, fazendo-se necessária de 20 a 40 horas semanais a fim de obter os melhores resultados. Nos dias atuais vemos que as crianças que recebem essa carga horária semanalmente apresentam excelentes resultados e dependendo dos sintomas, muitos deles chegam a ser eliminados e transferidos em ganhos comportamentais.É importante também destacar que a ABA não é só para o tratamento de pessoas com autismo. Ela é uma ciência que está presente em todos os contextos a fim de promover a modificação do comportamento, seja no esporte, na economia, na escola, e na vida de qualquer indivíduo. Quando falamos de ABA, devemos salientar que para cada criança existe um Plano de Ensino Individualizado, que chamamos de (PEI). Após a criança passar por uma avaliação criteriosa e ser verificada as necessidades iniciais, é então, elaborado um PEI com as metas de ensino que deverão ser aplicadas em casa, no consultório e nas outras terapias que a criança faz. Todos os objetivos de ensino são traçados de forma individual para cada criança. Justamente por isso ABA não é um método! Quando falamos em método, entendemos que, o que faremos com uma pessoa poderá ser feito para todos e é por isso que a ABA não é um método. Levando em consideração que cada indivíduo é um, com a sua particularidade e necessidade.
Me chamo Juliana, sou natural de São de Paulo e moro em Goiânia desde o ano de 2006. Minha família é bem dividida, alguns moram aqui em Goiânia, outros em São Paulo, e outros em Palmas- Tocantins. Antes de fazer psicologia meus familiares me diziam que eu tinha que fazer medicina e ser pediatra por gostar e me dar tão bem com as crianças. Logo, não quis prestar vestibular para medicina e “cai” na psicologia sem se quer imaginar que queria essa área. Na primeira semana de aula do curso, uma professora que dava a matéria de desenvolvimento perguntou para todos os alunos da sala por que eles estavam ali, eu fui uma das poucas que não soube o que responder, só sabia que precisava estar ali. Não demorou muitos dias ou meses pra eu ter a certeza que aquele curso teria sido uma das melhores escolhas da minha vida. Ainda no primeiro semestre tive uma professora da área comportamental que marcou a minha vida e no final do curso ela acabou se tornando a minha orientadora. As primeiras aulas dela sobre a Análise do Comportamento me fez ter a certeza sobre a minha profissão e o que queria definitivamente pra minha vida. Desde então começou minha jornada acadêmica, e ao chegar no 4º período do curso de psicologia comecei a olhar algumas opções de estágios, foi então que encontrei um cartaz exposto na universidade que nele dizia, que uma clínica de psicologia estava selecionando acompanhantes terapêuticos para trabalhar com crianças autistas. Até então eu não sabia o que era o autismo e não tinha tido nenhum contato ainda com uma pessoa do espectro, ou pelo menos achava que não.Fui então selecionada e desafiada a ir para uma outra cidade todos os dias que fica aproximadamente 60km de Goiânia para atender uma criança autista. Essa criança tinha 2 anos de idade e tinha acabado de receber o diagnóstico de TEA.Então, ali eu cheguei “de paraquedas” toda feliz que brincaria com uma criança, além de sentir a responsabilidade que eu teria no desenvolvimento dela. Lembro- me como se fosse hoje do nosso primeiro encontro, a criança estava deitada no sofá da sala com uma mamadeira, eu cheguei, cumprimentei os pais que por sinal estavam super ansiosos e a doce babá que o acompanhava. Me aproximei do sofá sentada no chão e comecei a chamá-lo pelo nome, fiz brincadeiras, cantei, pulei na frente dele, tudo que vocês podem imaginar que uma pessoa faria para ter atenção. Ali então, permaneci por duas horas consecutivas, e nesse período ele se quer me olhou ou me notou. Parecia que eu e a parede eram a mesma coisa, sai daquela casa com o coração doendo, me sentindo incapaz, sem sequer entender o porquê de ele não ter me olhado, pois tinha feito tanto esforço para ele simplesmente me olhar. No caminho de volta pra casa fiz inúmeros questionamentos, e em todos eles não encontrava uma explicação.No dia seguinte eu estava lá, resiliente e cheia de expectativas, comecei a pegar tudo que ele tinha na casa e no quarto para brincar e mais uma vez, nada! Ele se quer olhava pro que eu fazia, então decidi simplesmente parar o que eu estava fazendo e decidi apenas observá-lo, e foi aí que eu encontrei uma “chave” de abertura para a nossa relação. Anteriormente eu tinha colocado um caixa de formas geométricas no chão, ele então foi até ela, pegou as chaves que compunha essa caixa e começou a sacudi-las, foi a partir daí que eu tive um “clique”. Ele gosta de coisas que balançam, mas em todas, são coisas específicas, logo comentei com os pais dele que ainda não tinham notado o que ele gostava de brincar e como brincava.Naquele dia fui embora para casa cheia de alegria e comecei criar várias coisas para brincar com ele, eu dormia e acordava pensando em estratégias que eu poderia fazer para ganhar a atenção daquela criança, sabia que o vínculo seria a base para que eu pudesse executar o meu trabalho com ele. Os dias se passavam e cada vez mais ele me mostrava a forma especifica com que gostava de brincar e a especificidade com cada objeto que por sinal não eram brinquedos como eu estava acostumada a usar para brincar com as crianças da minha família. Isso despertava em mim ainda mais a curiosidade sobre o autismo, porquê diferente de tudo que eu lia e do que normalmente vemos na literatura, é você conviver, estar ali presente e saber que aquele “ser” precisa da sua criatividade, sensibilidade e responsabilidade para se desenvolver.A nossa relação crescia e eu tinha a impressão que da mesma forma que ele me via como um “anjo” na vida dele, também me via como uma “chata” que iria lhe tirar diariamente do seu conforto. Eu precisava mostrar para ele o que cérebro dele sozinho não estava conseguindo, precisava agir nas conexões certas e gerar uma história reforçadora para todos nós, principalmente para ele!Então chegou o dia que ele começou a dar a atenção para aquela “moça” que viajava todos os dias por uma hora e trinta minutos para estar com ele por duas a três horas. E depois de algumas tentativas quando um dia eu o chamei pelo o nome, ele então, olhou nos meus olhos, e foi ai que eu descobri o verdadeiro sentido da palavra “DESENVOLVIMENTO”, da simplicidade de coisas que eu se quer notava a importância no dia a dia, sabia que olhar nos olhos das pessoas é uma alta habilidade social que todos nos devermos ter. Mas não sabia a importância disso, não sabia a profundidade que um olhar tem, e muito menos a transformação que pode gerar no outro. O olhar dele simplesmente abriu meus olhos para olhar para o mundo de uma outra forma, e desde então nunca mais consegui olhar como antes. A questão não foi só de estimula-lo a olhar nos meus olhos, foi de receber amor e acolhimento no olhar de uma forma que só quem convive com os autistas conseguem descrever.Hoje eu reconheço o processo, o caminho, a simplicidade, os pequenos ganhos, a importância de ter alguém que acredite em você e tantos outros. Não que eu não tivesse isso antes, mas agora de uma forma profunda e com mais intensidade. Foi assim que construí minha história de amor no “mundo” que eu tive a certeza que nunca mais sairia dele, porque sair dele é sair de mim mesmo.Com carinho, Juliana